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Rodrigo Leitão (esq.) |
Na última segunda-feira (30) eu estive na plateia de uma palestra sobre formação tática no futebol, ministrada pelos treinadores Rodrigo Leitão e Márcio Zanardi e intermediada pelo Futebol Interativo. Foi minha primeira participação em um evento informativo sobre futebol e táticas de jogo.
Por mais que fosse aberta a diversos públicos, a reunião era voltada a profissionais e entusiastas a técnicos de futebol. Mesmo sabendo disso, eu quis participar porque eu quero ser um jornalista diferente. "Ah, lá vem o Gunnar querendo reinventar a roda sendo que ele mal sabe o que é jornalismo no futebol". Realmente, mas foi pensando nessa situação que eu iniciei minha especialização em Jornalismo no Futebol, pelo Futebol Interativo . Mas, voltando...
Eu não quero ser um apresentador de programa de entretenimento sobre futebol. Minha meta é trabalhar com informação, divulgando-as, fazendo minha leitura e só. Informação. Ela será o pilar do meu trabalho.
Dito isso, que maneira mais eficiente de trabalhar senão tendo propriedade sobre o assunto? E, afinal de contas, como ter propriedade sobre uma informação? Estudando.
O estudo engloba tanto a parte contextual quanto técnica do assunto. Eu precisava (e ainda preciso) compreender bem as questões táticas do futebol e, por isso, não tive dúvidas de que assistir aquela palestra era obrigação. E não me arrependi, pois Rodrigo e Zanardi deram aulas à altura de seus currículos.
Mas eu quero chamar sua atenção a um ponto que (creio eu) a maioria dos brasileiros que acompanha futebol concorda: a nossa cultura de alta rotatividade de treinadores. Quero aproveitar o gancho da queda do Renato Paiva do comando do Botafogo após a desclassificação nas oitavas da Copa do Mundo de Clubes.
Conforme apurou Bruno Braz, Paiva sequer retornou ao Brasil com a delegação do Botafogo, o que pode indicar o tamanho de seu desapontamento com a diretoria. Se for o caso, não é pra menos, né? Tudo bem que, pelo que a mídia cansou de apontar (e falo sobre essa questão daqui a pouco), o Botafogo perdeu porque não impôs jogo. Não se apresentou, esperou acontecer alguma coisa e foi inofensivo até o Palmeiras abrir o placar aos 10 do primeiro tempo da prorrogação.
Mas era motivo para já demitir o Paiva? Assim, tão bruscamente? Fica fácil supor que se tratou de uma medida imperativa de John Textor, dono da SAF do Botafogo. Mas... e se o Botafogo não tivesse um dono? Paiva ainda teria um emprego?
Eu acredito que sim. Mas, também, não por muito tempo.
A postura cultural brasileira de demitir treinadores
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Rodrigo Leitão durante seu discurso. |
Em seu discurso, Rodrigo Leitão nos disse uma coisa que me chamou atenção:
É preciso mudar a cabeça de quem comanda e de quem forma opinião.
O assunto não era o Paiva especificamente, mas o quanto os trabalhos de treinadores aqui no Brasil são interrompidos após alguns resultados negativos.
Bom, eu não quero chover no molhado. Você está cansado de saber que uma sequência ruim cai na conta do técnico. O que eu quero é focar na última parte dessas aspas do Rodrigo. Quem forma opinião.
Formadores de opinião são os que detém audiência, que está cada vez mais ansiosa por conteúdo supérfluo e risonho. Grande parte dos programas esportivos não tem nada de jornalismo, mas de puro entretenimento, cuja audiência ama frases como:
— Fulano foi um covarde!
— Fulano ficou com medo do adversário!
— Fulano foi burro!
— Fulano merecia ir pro time Tal (sendo que o time Tal é o que seu colega de bancada torce)!
Pode não parecer, mas sim, esse tipo de entretenimento forma opinião. Então, durante a sessão de perguntas, indaguei ao Rodrigo como fazer um trabalho justo como formador de opinião. A resposta dele foi: estudando.
Isso era o que eu estava fazendo ali, entendendo sobre tática, planos de jogo, decisões durante as partidas, enfim. Mas outra parte importante que ele pontuou foi a proximidade com os treinadores.
O estudo (retrospecto, condicionamento e disponibilidade dos atletas, formações comumente usadas pelo treinador, estilos de jogador, contribuições táticas de cada peça do elenco) e a informação converge com a essência do jornalismo: não trabalhar com achismos.
Dessa forma, o jornalista critica com base, com repertório e, principalmente, com humanidade. Nenhum treinador joga para perder, assim como nenhum jogador escolhe seus dias bons e ruins. Todos são humanos e isso precisa ser levado em conta em cada palavra de um jornalista.
Então, eu não digo que o Renato Paiva foi um covarde. Por qual razão ele o seria? Seguramente ele tinha um plano, que infelizmente não deu certo. Que plano? O que se passava na cabeça dele? Ora, eu não faço ideia, o que significa que dizer que ele foi isso ou aquilo não passa de achismo.
Neste texto, quando eu relacionei a demissão ao John Textor, eu disse que fica fácil supor que foi o que aconteceu. É fácil fazer a leitura de que o Textor não se agradou do que viu em campo e demitiu o Paiva. Mas pegar um microfone e dizer coisas como "Textor é que foi valente de mandar esse treinador covarde embora" não é papel de um jornalista.
Confesso que estou muito ansioso por trabalhar como jornalista esportivo e trafegar por essas informações reais, verdadeiras. Rodrigo, estou ciente da responsabilidade de formar opiniões. Por isso, a humanidade estará acima de qualquer questão futebolística no meu trabalho. E você tem contribuição nisso!
A gente vai se ver por aí!
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Márcio Zanardi (esq.) no fim do evento. |
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Márcio Zanardi durante seu discurso. |